19 de out. de 2011

Todos é o verdadeiro nome de deus



Fiz questão de lamber uma poça de lama

Quando perdi o nojo de estar vivo

30 de ago. de 2011

O tenro e o terno.

Quando se descobre a lama ridícula que nos rege como norma é de se rasgar tudo. Cuspimos naquilo que tem como asco a própria saliva e saímos do laço. Não importa se temos amarras, se somos amarras ou se temos partido. Pois desta vez não devemos o lar; nós queremos o túmulo.

Pois é assim com quem se morre. Dificil é escolher viver depois de morto e há quem tenta se matar. Eu entendo a frustração, a decepção e a raiva de estar sendo enganado mas não dá pra cair no abismo traumatizado ou com esperanças de um sonho melhor. Não é assim para quem quer morrer.

Um paradoxo não é para quedas de doutrina declarada, o paradoxo é um ideal. Sei que não tem abraço mais terno do que o abraço da morte. E não tem vida mais tenra do que a vida de um homem. Somos facilmente partidos. Mas para se estar confortável com o abismo é preciso escolher partejar.

Partimos mesmo antes de estarmos mortos, é bom lembrar. Aposto que aquela mulher, aquele trabalho, aquele par te fez perecer. Mas nossa vida é tão traumática que não queremos nascer de novo. E se acreditamos em outra vida (póstuma ou passada) é também para não aceitarmos o morrer.

Abaixo da terra os mortos brotam flores;
mas ainda não te vi florescer.

23 de ago. de 2011

19 de jul. de 2011

Contos do tredo

Conto 4:

Ela nasce no momento que entra por aquela sala. Seu corpo vira braços e se ela pudesse os acolheria no útero. Tem a voracidade de um buraco negro ao engolir o trabalho. Passa pela miséria como quem passa por um jardim. Poda as flores para lhes dizer que vivam. Naquela casa nunca soube o que é medo até sair da sala. Suas raízes estão no olho cego do jardineiro. O vil metal torce os braços para que se reduzam em adequação. Tudo vira desculpa para resignação.

Mas na selva, ninguém ama os bonsais.


Conto 5:

Naquela noite ambos tinham se divertido, conhecido pessoas e secretamente as desejado, esvaziando um pouco o peso de história que tinham. Na cama, depois do sexo, ela encantada com o vazio cabal em si, espontâneamente diz:

- Eu não espero que dure
- O que?
- Aconteceu de pensar assim
- Tu quer ficar sozinha?
- Não, eu vejo encontros contigo em mim
- Pois eu também
- Até onde nos imaginamos juntos?

Ela calou por um minuto e depois o abraçou. Enroscou o pau por dentro de sua virilha e ficaram ali até pegarem no sono.

18 de abr. de 2011

A bebida é a melhor amiga do homem; é a morte engarrafada.

Eu não pude deixar de reparar que aquela puta ficou tímida. Pediu uma bebida para ajudar a relaxar e depois já estava correndo nua em volta da piscina. Ela cobrava 250 reais mas estava ali de corpo presente. Não parecia que ela pensasse em seu filho em casa, ou no marido que a espancou, o pai, o tio, e depois o padrasto. Ela estava mesmo se divertindo.

Ao roçar minha barba nela eu soube que ia me apaixonar, e não podia mais dividi-la aquela altura. O seu corpo era trabalhador, pesado e magoado como se fosse apalpado por mil mãos ferozes - como a de um pai a corrigir os desvios no caminho do filho - Isto não sai. Mas tinha algo de ingênuo a vê-la saltitar. Pelada e com os cabelos no ar, não era a cena que me chamava, mas o que flutua.

Eu sei que em algum lugar daquela escuridão eu a encontraria em um pedaço intocável de pureza e virgindade, como Macário a execrar poesia. Eu queria lhe dizer "Você é absolutamente linda e eu te amo." Mas aprendi (por não estar pronto) de que não podemos desmerecer a força da passagem. Se eu assim o fizesse, seria criar ponte ao que é verso e desmantelar a colina que domina a praça de sua alegria.

Por isto eu tive de ir embora. Pois estás bem a aceitar a escuridão, e eu não, a aceitar a tua. Nosso encontro faria merecer a eterna companheira que me acompanha e te tirar a felicidade vívida de tua nudez. Então viva! corra e salte, pois tu és da vida mulher! E deixe que a morte proteja a timidez, como melhor amiga, no embriagar de uma garrafa.

2 de abr. de 2011

Afro Samba Sombra



Ela mesmo que passou
Por tantos homen e você
Diz agora que é amor
Vem pensar eu quero ver

No corpo que se esfregou
De maneiras tão banais
Sem nem ter um coração
Só pra ter um gozo a mais

Vem pensar que eu quero ver
Vem vensar eu quero ver

Ela mesmo que passou
Por tantos homens e você
Sente agora que é amor
Só que antes foi o quê?

Provação ou sacanagem
Alegria ou malandragem
Vai dizer que foi prazer
Só que antes foi o quê?

Vem pensar que eu quero ver
Vem pensar eu quero ver

Zanzê, Zanzê
Zanzê pra ver a dor
Zanzê, Zanzê
Pra te virar

18 de jan. de 2011

Ladainha

Eu imagino a cena: uma pessoa a quem não sei mais o nome abre o sorriso ao me ver, ela realmente está contente e aparentemente lembra de todos os nossos encontros. Eu sorrio de volta, por simpatia é claro. Tiro do bolso as respostas ensaiadas à cortesia, sei bem o que virá.

"Há quanto tempo? Como você está?" É o que todos dizem mas não, meus amigos, eu não estou bem. Eu passei bastante tempo sofrendo enquanto ouvia os ruídos. Vocês me dão trabalho! Tem sempre muitas coisas em ti, como a sarna epidêmica no gado. Não somos livres juntos.

Eu realmente não estou bem. E se não lembro teu nome é porque me passou em branco tua presença, ao mesmo tempo que o registro da minha história em tua boca me coloca como momento na tua contagem regressiva da vida. E tudo em ti é regressão, deve ser por isto que tu distancia o tempo da tua história e por isto que te interessa no estar.

Mas eu não me importo em te fazer entender, pois não estou bem. Não somos amigos. Não acredito nessa enumeração enfadonha, nesta oração à virgem para interceder por ti, neste teu profile esclarecedor. Eu aprendi uma coisa, a razão tem sempre razão. E da tua boca não sai nada que não seja a verdade.

Então que me chamem de louco quando não lhes venço por razão e acredito sozinho na tua miséria e em minha inocência. Acredito em mim pois sofri muito para isso. Te falo com a voz da dor; e não usei de dor para fazer razão. Então vai pedir o caralho para a virgem seu bosta. Porque só mesmo um bom palavrão, pra maldizer qualquer razão e animar o meu penar dia.

7 de jan. de 2011

Contos do tredo

Conto 1:

Os amassos tediosos no banco de trás do carro revelam uma paisagem nula. Sobre aquela lua e as estrelas se esconde um universo em desamparo. O pau levanta e desce, assim como o violino a ser regido pelo maestro tensor entre fetiche e ansiedade. Mas ali não há sinfonia.

Ali todo o som é mesmo monótono.


Conto 2:

Naquele pico há duas mulheres e a mesma, uma pequena e uma velha. A pequena é dedicada e serve ao caso pensado. A velha quer ser também o tredo. As costas crustas pesam o exato formato nos lençois e ela volta a dormir (como o morto a encaixar-se na fita pericial). Pensa antes em paz do que em sexo. Quer flores no enterro, mas não as espera em vida. Alimenta sapos na barriga. Transforma culpa em juízo, não quer amor mas quer abrigo. Sente-se melhor com espelhos novos, pois lhe mostram feia os antigos.


Conto 3:

Todas as noites ele sonha. É criança, tem medo, está quase sempre pelado e a voz ecoa. Ao despertar não os lembra e logo trata de recompor o corpo. Aquela linha entre ele e o outro lado é transformada em face e ele gosta disto. Entoa para não lembrar o menino do sonho que não oferece sentido e nem sorriso - pois lá só há abismo. Mas ele sai a ler as respostas e recados de computador em sua pagina oficial. Sente-se atraente por vez e alimenta o sorriso de seu ópio matinal.

Aquele menino andava nu no sonho
mas este está sempre vestido