Saí na rua depois de
tanto tempo. Tanto tempo quanto nos provoca o Senêca:
Hoje teci Vida entre os
nós! E me lanço em conversa com o rapaz que carrega consigo o estigma do marginal. De cara este me pergunta: “vai querer
o que?” Indicando ser uma relação de consumo entre nossos encontros. Ele realmente interpreta a margem e imagina que outro
vivo de cultura diferente o vê assim também. No caso, o outro sou
eu, ele não percebe que o eu é o outro.
Disse que não queria
nada e que só vim lhe falar. Ele acha estranho e me pede um cigarro.
Mas que porra é esta que nossas relações precisam ser do
interesse? Lembro de Birman dizendo que nos atualizamos como sujeito
a partir das conquistas impostas sobre o reconhecimento do outro.
Sobre o outro. Na doença da modernidade precisamos do outro para
manter um Eu. Triste eu, que está sempre sozinho.
Ainda assim insisti na
conversa; carrego um tabaco no bolso que tensiona um hiato ao
instantâneo e ofereço. Ele aceita dando tempo à calma... Aí mais
tarde ele se apresenta e diz que se chama “Gigante” e assim quase
faço um amigo. Mas já estou velho para isto! Estes montes de gente
juntas tão distantes no estar. Como aqueles meus amigos que saem
para dançar.
Eles vão para a noite
e temem. Olham tantas mulheres se divertindo e as desejam. Ficam
maquinando um passo para apressar algum esbarro. Um esbarro sem
dúvida; pois nunca será um encontro quando tensionado deste jeito.
Treina tuas frases e chega que, na minha opinião, vais ao encontro
de estragar a ocasião. Existe muito desencontro no encontro. O acaso
é o grão.
E um bom amigo diz que
vai comemorar seu quarenta e onze anos! Está claro amigo que tu não
te enquadra na mensagem social de um velho cinquentão. Tamanho vibra
intensamente o teu viver. Cinquentão é só uma palavra que esquece
o homem adulto, velho, criança, devir que somos. Me permita dizer em
meu diário blog: Tenho quarenta e milhões de anos. Tenho zero e
milhões de anos.
E se eu costumo dizer
para meus amigos afoitos que tenho muita habilidade em encontrar (o
par). Falo de um lugar de fora do ego e da experiência do meu corpo.
Falo de um canto quase esquecido, onde parar, não se mover,
significa destino. Não espero nada! Pense bem. Quantos homens como
nós passaram na história? Uns comeram mais, outros menos. Você quer mesmo falar de comer, se nem apetite tens?