28 de jul. de 2014

Do pó do corpo ao pó do grafite (2)

Quando escrevo é da necessidade de deixar um testemunho. A força mais agressiva que debate meu corpo é que um dia deixarei de existir. Por isto escrever para mim é um grito fúnebre buscando o encontro epocal. Intento mostrar a intensidade que me surge a vida; tento deixar póstumo o que valeu e o que me matou em minhas idades.

Certamente o que me matou foram as contas. O emprego e a necessidade de ter de ser um sujeito prestável na roda capital. Mesmo que nestas pequenas batalhas do cotidiano sempre tenha vencido a dívida, fui fraco para deixar que mês em mês ela me maltratasse. Talvez este sofrimento foi o que me fez organizar para que isto não me vencesse. Como se isto fosse vitória...

Mesmo convicto de que todos morreremos em qualquer história que possamos ter. Fui um pai nobre em espirito, um amante zeloso, um militante excelente da permanente minoria social. Qualquer virtude ou maldade morrerá na história. Eis minha certeza!

O humano é como uma Vaca, um Braquiossauro (Aquele dinossauro gigante pacato e perfeito mascando o pasto). Somos passivos e frágeis. Tão perfeitos feitos assim. Mas de onde vieram estes senhores pensantes que odeiam qualquer partilha de encontro com um ser sem ambição? Que interesse podemos ter que seja mais quente que sentir em pele de bebê o tato do sol maior?

Diógenes, o mendigo, soube traduzir esta inversa relação entre os homens que tem tudo e os que tem interesses de tudo. Disse ele ao ser abordado por Alexandre (o rei da época) que lhe ofereceu qualquer desejo por acreditar em sua sabedoria:

- Eu tenho tudo e tu podes também. Desejo apenas que saias da frente, pois estás atrapalhando o meu sol.