Quando escrevo é da
necessidade de deixar um testemunho. A força mais agressiva que
debate meu corpo é que um dia deixarei de existir. Por isto escrever
para mim é um grito fúnebre buscando o encontro epocal. Intento
mostrar a intensidade que me surge a vida; tento deixar póstumo o
que valeu e o que me matou em minhas idades.
Certamente o que me
matou foram as contas. O emprego e a necessidade de ter de ser um
sujeito prestável na roda capital. Mesmo que nestas pequenas
batalhas do cotidiano sempre tenha vencido a dívida, fui fraco para
deixar que mês em mês ela me maltratasse. Talvez este sofrimento
foi o que me fez organizar para que isto não me vencesse. Como se
isto fosse vitória...
Mesmo convicto de que
todos morreremos em qualquer história que possamos ter. Fui um pai
nobre em espirito, um amante zeloso, um militante excelente da
permanente minoria social. Qualquer virtude ou maldade morrerá na
história. Eis minha certeza!
O humano é como uma
Vaca, um Braquiossauro (Aquele dinossauro gigante pacato e perfeito
mascando o pasto). Somos passivos e frágeis. Tão perfeitos feitos
assim. Mas de onde vieram estes senhores pensantes que odeiam
qualquer partilha de encontro com um ser sem ambição? Que interesse
podemos ter que seja mais quente que sentir em pele de bebê o tato
do sol maior?
Diógenes, o mendigo,
soube traduzir esta inversa relação entre os homens que tem tudo e
os que tem interesses de tudo. Disse ele ao ser abordado por
Alexandre (o rei da época) que lhe ofereceu qualquer desejo
por acreditar em sua sabedoria:
- Eu tenho tudo e tu
podes também. Desejo apenas que saias da frente, pois
estás atrapalhando o meu sol.