30 de nov. de 2010

As misérias da forma

Aquele homem na igreja disse que o batismo é afirmação de deus e que bebês não podem confirmar sua fé. Disse que os bebês não escolhem a crença, posto não ter livre arbítrio; Pois só fazem os que andam em pé?

Na igreja é mesmo assim, o homem ereto é a coqueluche de deus. Como se o céu não pertencesse aos pássaros... E como se o húmus do humano não pertencesse aos vermes, as cobras, as centopéias e a toda família rastejante que insiste em nos integrar de volta ao pó errante da terra.

De onde nascemos a forma do homem não é a forma de deus e não há arbítrio que seja livre! A faculdade da vontade é a clausura do fora, este é o lugar que pertencemos.

Mas graças a deus temos os bebês; recém saídos do útero da mola, quentes daquilo que ao corpo se perde sai o bebê - e chora. Ainda sem forma e integrado ao rompimento:

Os bebês são onde nos sentimos seguros; e em perigo ao mesmo tempo.

14 de out. de 2010

O menino que espiava pra dentro

Hoje-sempre pensei que minha desconfiança com a boa vontade alheia tinha a ver com minha história de vida. Já não carrego a mágoa da cronologia mas no meu sempre presente de hoje lembro tudo na ferida viva do corpo.

Desde pequeno fui mesmo assim, estranho. Um olhar torto sobre linhas pensava em preto-e também-branco. Era único, no meio de i(r)mãs. É engraçado pensar mas sempre fui mesmo o sexo frágil, na quadrilha de femêas eu tinha muitos apelidos. Eu era a bixa. Eu era o padreco e também o aderido.

E piorou no adolescer. Adolescer, pra quem não sabe, é crescer em forças... mas é muito mais que isso. É legal não ter forma, como os pés grandões ou o pescoço largo de um corpo esquisito que é do adolescente. Mas os já formados dão risada. Qualquer pedaço diferente é caçoado. E os escolhidos a se sentirem fora, vão perdendo tudo.

Depois disto, o turbilhão: Retruco ao mundo, longas trilhas ao abismo, assassinatos de atores do real e por fim, consolação. Em uma vida. Sem precisar de reencarnação, deus ou prática iluminada. Em uma vida. De novo perdia tudo, mas desta vez com a potência do vazio. Mesmo assim, muito me machuquei e fui avacalhado por aqueles que perdoo. Sei que de algumas pessoas a ofensa deve ser lida como um elogio, mas não há retorno!

Ainda vejo o velho deus sendo rechaçado na sinaleira pelo egocentrado que tenta parar a brisa do fora. Ainda vejo uma mãe como fiél inimiga a desejar o filho em fracasso para não enfrentar a própria solidão. E ainda vejo as propostas de abundância por uma boca pequena que sequer pode rasgar o olho do potro.

Tudo isto ainda vejo.

Com o desvio de um olho torto.

13 de out. de 2010

O lar.

Escrevo para todo este bando de murrinhas, babacas, pequenos medíocres, egoístas, limitados, merdinhas, sofredores, bundões, frescos, burros, tapados, idiotas - que nem ao menos sabem de ignorância - quadrados, identitários, oco fracassados, submissos, mentirosos.

Mas no nosso lar não temos disso.

Este bando de enlatados, bonzinhos, esperançosos, apaixonados, honrados, orgulhosos, bonitos, vegetarianos, religiosos, dignos, perseverantes, casados, filhos, gentis, etiquetados, sedutores, vencedores, heróis, saudáveis, gostosas, interessados, espertos, famosos.

Pois no nosso lar nos temos isso:

1. Compaixão é defeito
2. Ser vegetariano é crime à carne
3. É proibido contar as horas, contar as horas é proibir
4. Fazer envergonhar é crime, vergonha é pecado

No nosso lar nada é descartado

22 de ago. de 2010

Testemunho.

AAAaaaaaaah... É um suspiro. puxa, sempre achei que um suspiro, é um agradecimento à vida. E lhes suspiro agora: que bom é estar livre.

Meus amigos.

Sei que faz tempo que não lhes falo.. e agradeço muito a todos aqueles que me leêm e acreditam. Que dizem: é isto mesmo porra! Que falta de fé não amigos? Paulo previu para agora um tempo de grande tolerância e declínio moral. É verdade. Mas não é tão melhor compartilhar o corpo assim? Mais permitido? É claro que toda época tem o prazer e medo, como todo o homem Caetano.. Mas em mim de novo, suspira a liberdade!

Amigos, andei sumido. É porque estava mesmo ausente. Quando tu flerta com a vida, a vida flerta contigo, mas se tu deixa de flertar com ela ela te abandona sem dó. Dó é mesmo coisa de humano, assim como o escrúpulo. Eu li nodicionário, escrúpulo é indecisão de alma, relutância com medo do verso. Carrancuda e diligente vai ao céu (o inferno) esta gente.

Mas hoje é o meu testemunho. E já me libertei, e cansei, e há pouco me masturbei para me relaxar na cama. Mas o quero muito, este testemunho. Que representa a minha liberdade. Liberdade de poder escrever assim, para vocês amigos, que sentem também a vida deixando de ser nos poros a cada gota. Ah meus amigos... Quando penso em vocês, penso em uma parada de tristes.

É verdade. Esta vida se esvai!

E vocês são mesmo tristes não são? Não são. De sadio, de saúde. Está na moda hoje a saúde... esta palavra que nos mata e nos cura. Mas por esta palavra, quantos de vocês são?! Quem está realmente vivo?

É esta a pergunta.

6 de mar. de 2010

18 de jan. de 2010

De que vale a vida se não para devorar uns aos outros?

Eu ando receoso em escutar estórias de encontros. Como doses anestésicas são usados os colos estranhos. A cena é sempre a mesma no cinema pornô, refletida nas telas do laptop do menino de 6 anos. A cena é sempre a mesma no vazio do sexo pobre, refletida na infância interrompida da menina de mesma idade. Violência e submissão poderia ser o título de qualquer encontro parvo.

E a noite se transformou no grande palco de atuação dos jogadores do esprém. À noite é que os leões saem para caçar, mas ao contrário dos zumbis de balada, eles devoram suas presas. Estes mutantes escuros não entendem de nada a selvageria do leão. São lixo de constructo, tão enlamaçados pela vergonha de norma civil que, ao encontro selvagem dos fluidos e odores dos corpos, supõem animalismo ao ato.

Como se o sexo refletisse a parte ainda selvagem em nós e o selvagem refletisse a violência. Mas o selvagem reflete a natureza e esta natureza está no campo limítrofe de todos os mundos. Tapas e submissão é apenas o escapamento de sua bitolada rotina. Este sexo sem criatividade grita por socorro e também subverte em morte o coito.

E ficam lá, no meio da pista de dança balançando o corpo pelo plano do radar (Shiva sabe que a dança descontrói o mundo em cada passo). As mulheres são oprimidas no cerco vil dos corações estragados e os inseguros reparam a torre da ilusão a cada captura. Outras são obrigadas a incorporar o áspero em si para afastar o homem vão que pensa que sorrir é conceder prisão ao seu desejo imútavel.

Mas os amantes, são eternos como é a natureza, nascem e morrem a cada instante. São uma força mútavel e sensível, assim como é o sexo. Repara na pele vaginal e no pênis despido de seu capuz, é o mais próximo que se pode chegar de um corte em aberto. Esta pele viva é como se fosse a última camada de elo entre o corpo e a alma. É a própria junção de teu espectro.

Toma-te cuidado com teu sexo, pois ele te exige mais! Tuas mil possibilidades de existir não serão alcançadas no obedecer de toda tua vida e ainda, perderá cada pedaço de tua morte-em-vida pelo delírio de ideal; teu sexo reflete o cenário de fantoches da tua sobrevida. Só pelo absoluto de possibilidades que o sexo será realmente selvagem.

Cantam os poetas em uníssono:

- Quem consegue escutar as cores da borboleta pode apalpar o infinito.

14 de jan. de 2010

O espectador. (texto de um amigo)

Nada melhor do que um churrasco com os colegas de trabalho após um desgastante dia de trabalho. Muita cerveja gelada, carne, som de qualidade, risadas, descontração e animação, a fim de que esqueçamos o mortífero e necessário hábito do trabalho pelo qual todos nós temos que nos submeter, com uma ressalva: atualmente eu não estou bebendo, por opção. Talvez seja uma opção pela qual eu me arrependa profundamente no futuro. Enfim...

E assim, todas aquelas pessoas que trabalham no mesmo escritório organizaram um churrasco para confraternizar, o qual foi realizado no salão de festas de um dos colegas. No início, se via que as pessoas estavam comportadas, com a maquiagem fresca em seus rostos, se comportando tal qual o fazem quando estão em ambiente profissional. Mas bastam uns goles de cerveja bem gelada e uma caipirinha bem adocicada para que as máscaras comecem a cair. Afinal, o álcool é um lubrificante social.

E como o assunto sexo não podia faltar numa roda de conversa, uma mulher, que se mostra toda comportada no seu habitat de trabalho, menciona o seguinte aos quatro cantos do salão “eu adoro fazer um sexo animal com o meu marido”. Os abobados adoraram essa frase, e ela, então, encorajada por isso, emendou: “amo fazer sexo matinal, mas me nego trepar quando meu marido está com tesão de xixi. Ele primeiro tem que mijar para depois transar comigo, e o pau dele tem que estar bem limpinho, sem qualquer cheiro ou gosto de urina”.

Para cutucá-la, eu perguntei: “e se por ventura ele acordar de pau duro porque estava sonhando contigo? Isso não seria um tesão de xixi, não é?”. Não obtive resposta. E o pior: a fanfarrona ganhou adeptas. A pauta da roda tornou-se o sexo sujo e vazio. Confesso que me senti mal. Saí dali e tomei um copo de água, aproveitando para respirar um pouco.

Quando voltei ao salão estava tocando músicas bagaceiras. Funk, para ser mais preciso. E obviamente avistei aquelas mulheres pobres dançando de maneira insinuante com o único intuito de provocar os homens. A essa altura do campeonato, noventa por cento das pessoas já estavam contaminadas com a podridão emanada inicialmente por uma única maçã podre, e todos colocaram-se rendidos, dançando ao ritmo da música “beijo na boca é coisa do passado, a moda agora é namorar pelado”.

Quando eu pensei que o pior já tinha passado, vieram duas mulheres ao meu encontro. Uma era aquela maçã podre que começou a merda toda. A outra, uma coitada reprimida que bebeu um pouquinho, achou engraçado o que a primeira fez, e resolveu segui-la.

Ambas começaram a me elogiar e a se insinuar. Muitos toques, palavras no ouvido e olho no olho. Num determinado momento, ambas falaram que queriam sair comigo naquele momento, direto para um local reservado, para nos conhecermos melhor. Para não ser grosso, me esquivei, falando que elas estavam bêbadas e só estavam falando aquilo tudo da boca para fora. Mas, no fundo, eu senti que elas estavam querendo mesmo era trepar a noite inteira. Senti no rosto delas, no jeito delas falarem e de me tocarem, mesmo elas sendo casadas.

Quanto mas eu neguei, mais elas queriam. Não tinha mais forças para suportar aquilo tudo. Era muita coisa para uma noite só. Saí do salão e sentei num banco que ficava localizado perto da pracinha do condomínio. Fiquei lá por alguns minutos, pensativo, quando uma das minhas colegas de trabalho sentou-se ao meu lado. Uma pessoa que eu nunca dei a mínima, pois sempre achei ela muito comum, igual a todas estas que se encontra em qualquer lugar. Uma pessoa, até então, sem qualquer encanto.

Então, ela perguntou o motivo de eu estar ali parado e eu, prontamente, expliquei, com enorme tristeza. Eu me abri para ela. E ela, ao me escutar, respirou fundo, e também se abriu para mim. Ela retirou o véu que estava sobre a sua face este tempo todo, e pude, então, enxergar um pouco da sua essência. Uma linda mulher, com lindas intenções. Com um enorme potencial. No cotidiano, age de um jeito comum porque os homens assim a tratam e não dão o valor que lhe é devido. Vi isso. Ela quer amar. E ser amada. Não quer mais ser um objeto sexual. Não quer mais ser comida e comer os outros.

E então, a minha noite que tinha tudo para ser uma catástrofe, teve um momento bom, com sinceridade. Encontrei um brilho atrás da neblina cinzenta.

Guerreiro Intrépido da Mão de Gelo.

11 de jan. de 2010

Retratos do cotidiano



"Estou procurando pousadas para passar o carnaval na Ferrugem". Disse ela na conversa de msn. Mas Ferrugem no carnaval? Vai ser igual ao verão no carandiru, só que com latinhas de cervejas espalhadas por tudo; e polar ainda, para caracterizar o mau gosto. Eu disse. Mas porque afinal tu pensou em ir pra Ferrugem? "Ah é que temos um grupo de mulheres solteiras".

Mas tu sabe né? Basta ser mulher para cair um homem do lado. "depende do tipo de homem que se está esperando" - disse ao ascender a esperança. Mas na Ferrugem? É o mesmo tipo de homem que tu encontra em qualquer estádio, escritório, balada, tele-entrega ou audi A3. São tantos quanto as baratas ao sair do bueiro. Ela pensa.

Subitamente outra conversa me aparece na tela. É um amigo me dizendo "olha que vídeo mais engraçado. hahahahahahaha". Abro o link e o que vejo é um combatente, destes árabes loucos da tv, lançando mísseis de morteiro em sua guerra de liberdade. Lança um, dois e o morteiro emperra no terceiro espalhando os átomos do guerrilheiro pela terra santa. Eu não achei engraçado. Digo e fecho a janela.

Me brilha a tela de novo. É minha amiga e a continuação da conversa. "Ah mas ninguém vai pra Ferrugem encontrar o príncipe encantado. Só vai dar boas risadas, ficar bêbada e transar com mais um babaca". Que horror. Diz o amigo das risadas do morteiro assassino, no ctrl + c, ctrl + v. Eu mantenho a conversa: Mas olha, não precisa procurar príncipe mas é bom procurar encanto.

Ela concorda e diz "tá, então me deixa informada sobre a tua viagem pro Uruguai, eu sou mesmo parceira". Outra janela se abre, é um amigo dentista, que pedi uma ajuda numa corrosão de canal. "Conseguiu falar com ele?" Diz este meu amigo e ele, é o dentista especialista no canal. Não cara, mas ligo amanhã, obrigado. E como estamos?

"Ressaca de ontem fui no jimba". E o que achou? "Tava muito bom, altas gatas peguei duas. Uma repetida e uma ex-colega mais ou menos. Mas peguei contatos com duas outras maravilhosas". Pô, e porque duas? "Ah tava afim de extravasar". Sei como é... e fecho a janela.

E eu sei mesmo como é. Uma corrosão de canal está lá sem a gente perceber, até que rasga a alma. Mas ela cresce na desconexão do cuidado. Tudo é separação, o nosso complexo anímico livre vira um confronto entre fronteiras. Agora estás em guerra e te garanto, vai perder. É impossível afetar-se com o infinito, quando não somos inteiros.

Falam o que não sentem e pensam o que não fazem, na ordem caótica qualquer do silogismo de Gandhi. Buscam nos outros o reconhecimento de si mesmos. Sendo ilha, não pode-se deixar afetar por terra de continente, pois assim o fazendo, perderia todo enfeite aceito de sua tendenciosa composição. Teu esforço é todo em busca de reconhecimento, para enganar o estômago.

É questão de opinião, tu vai dizer. Mas toda ilha precisa da opinião do outro. Você precisa de tudo no outro, afinal sem alguém para te achar o que tu demonstra, o que te sobraria se não o nada? Mas tu é mesmo o menininho dos olhos da ilha, não é? Enquanto alguém estiver lá para ser capturado, tua mentira do nada, passa mais um dia de vazio. Deve ser mesmo emocionante ser rei de ilha deserta.

E o que tu não és te escapa, como te escapa a vida. Por isto te perdes, mas da morte não escapas!

E ainda vão desenvolvendo um certo cinismo que de nada tem a ver com a doutrina cínica do cão original. Um cinismo que faria Diógenes, o matador de monstros, militar no conteporâneo. Mas este cinismo grosseiro é também um mecanismo de conserva. Como se ao banalizar o ato, te tornasse automaticamente descomprometido do mesmo. Pão e circo bastam para ilhar um homem.

E ao verme nem mesmo esforço é preciso para cavocar o abismo em procura do podre, basta passar pelo cotidiano. Mas o Verme sabe. Apenas o nada é digno da morte e só a morte pode ser constada como sorte de amor. É claro que todos têm um bom coração no abismo, mas não se engane, pois todo dia é dia do juízo. E o podre sabemos bem como é: Corrosivo. fraco. e oco.

9 de jan. de 2010

O amor não se engana.

Eu tenho certeza! E muitos de vocês devem mesmo ler e dizer: quanta arrogância, que prepotência. Um ego potente é diferente de um ego inflado. Você não muda nada com isto e nem mesmo você mantem-se você; com isto. Pra que tal esforço? Podes acreditar, eu vou rir quando quiser e chorar e dançar aonde for.

Eu estou na mesma festa. Tenho meus defeitos de cultura, mas os sei bem, não vou me permitir perde-los em marcas. Você fica pasmo na arrogância que posso chegar? Eu já penso que este patamar, é o básico de mim. Me lembro de você atriz menina, quando pus as mãos em ti. Eu te disse ao te ver gostar demais, você está mesmo mal acostumada; e para baixo!

E hoje eu olhei para ti, Silvia. Quatro encontros foi o que tivemos no passado? Eu lembro bem o genuíno encontro; brincadeiras de cabeças dançando de siga o mestre cada um no seu lado do salão. E hoje conversamos sobre o estranho fim. Eu nem o vi, mas ele passou com o tom do tempo. O amor não se engana.

Mas nossa conversa foi mesmo curta, minha fala e meu coração permanece em seu merecido descanso, pois trabalhou demais. Eu não te tenho com amor Silvia. Então quando te abandonei e vi tu beijar aquele homem, eu sorri como o cão. Estive mesmo certo em te despedir. De alguma forma para mim, a vida tem sempre razão.

Fechei meus olhos e nem ao menos te dei as costas. Dei a frente para os que estavam presentes. Ah mas eu te vi! Em descompasso com o rapaz que trocaste teus fluídos. Ele te serviu para o que? Sei que tu sabe, se te serviu para algo, não te serviu para nada. Pois este amor que eu vivo, não tem propósito e nem fim. Ele apenas rasga a pele e come pedaço por pedaço desde os dedos até os cabelos.

5 de jan. de 2010

Eu durmo no abismo de uma mulher

Para construir as sombras do amor, é preciso se iludir. Meu corpo, cada vez mais magro, me aparenta o mais forte dos homens. Me tente! Me provoque ou desafie, eu te cedo todos os meus domesticados demônios. Mas se te mostro minha face no indiferente afetamento da humildade tu perderá o jogo sozinho.

Acho bonito pensar que os corpos quando abraçados em forma fetal no sofá batem o mesmo ritmo cardíaco. Fomos rasgados. Mas e daí? Quando verei tu parar de chorar e me abraçar de orgãos unidos? Eu sinto tua falta na ferida viva do meu coração. Lembro bem dos rituais pagãos ao descobrir o corpo: cavaleiros mascarados em círculo e nós dois trepando no meio do altar.

Mas aquilo era nosso intento de ser. Então por favor, não me tenha fetiche ao ver o mundo transar. Nós estamos em núpcias o tempo inteiro. Cada nossa respiração bulina o vento e a planta numa orgia nupcial de amor. Eu, que me sinto agora adoecido de amor, não posso transformar o tempo, posto que o tempo me abandona. Me perdoe tempo, pois sou mesmo eu que morro neste instante.

Faça valer homem cansado! Faça valer seu merda! Sou homem e quero que tu saiba mais do que sou terra: Cala tua boca diante desta mulher. Não vês que só de te permitir penetrar a alma de seu útero já deves ter a existência agradecida? Nosso corpo bruto feito em mil traços é feito para permanecer. Enquanto a mulher flutua, dobra e tece a teia do mundo.

Mesmo minha espada não te sangraria mais do que o abismo desta mulher. Mas seja grato pelo sangue desta ferida, porque de minha espada tu terá mesmo só a cabeça cortada. Renuncia tua masculinidade viril e deixa que teu sentimento de gratidão submeta-se à mulher. Não será senhor dela, sem antes aprender a ser seu criado. Ela quer teu gozo assim como nós queremos, se tivermos sorte, estar ao lado dela..

..em nossa morte.