19 de jul. de 2011

Contos do tredo

Conto 4:

Ela nasce no momento que entra por aquela sala. Seu corpo vira braços e se ela pudesse os acolheria no útero. Tem a voracidade de um buraco negro ao engolir o trabalho. Passa pela miséria como quem passa por um jardim. Poda as flores para lhes dizer que vivam. Naquela casa nunca soube o que é medo até sair da sala. Suas raízes estão no olho cego do jardineiro. O vil metal torce os braços para que se reduzam em adequação. Tudo vira desculpa para resignação.

Mas na selva, ninguém ama os bonsais.


Conto 5:

Naquela noite ambos tinham se divertido, conhecido pessoas e secretamente as desejado, esvaziando um pouco o peso de história que tinham. Na cama, depois do sexo, ela encantada com o vazio cabal em si, espontâneamente diz:

- Eu não espero que dure
- O que?
- Aconteceu de pensar assim
- Tu quer ficar sozinha?
- Não, eu vejo encontros contigo em mim
- Pois eu também
- Até onde nos imaginamos juntos?

Ela calou por um minuto e depois o abraçou. Enroscou o pau por dentro de sua virilha e ficaram ali até pegarem no sono.

Um comentário:

  1. "Até onde nos imaginamos juntos?"...
    Juntos até ficarmos separados? Estava pensando sobre estar junto, justamente ontem e me veio, pelo sentido, pelo momento, por ficar muito mais de uma noite junto, que muito junto nos deixa também separados. Separados no movimento intensivo dos desejos, depois que o sono vira sonho e vira coisa e vira vontade de sair para além de si mesmo. Separados: uma vez longe dos braços das virilhas, separados... mesmo que os pensamentos se encontrem vez por outra numa esquina da imaginação.
    Pelo texto, a vontade de continuar com a palavra.

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