7 de jan. de 2011

Contos do tredo

Conto 1:

Os amassos tediosos no banco de trás do carro revelam uma paisagem nula. Sobre aquela lua e as estrelas se esconde um universo em desamparo. O pau levanta e desce, assim como o violino a ser regido pelo maestro tensor entre fetiche e ansiedade. Mas ali não há sinfonia.

Ali todo o som é mesmo monótono.


Conto 2:

Naquele pico há duas mulheres e a mesma, uma pequena e uma velha. A pequena é dedicada e serve ao caso pensado. A velha quer ser também o tredo. As costas crustas pesam o exato formato nos lençois e ela volta a dormir (como o morto a encaixar-se na fita pericial). Pensa antes em paz do que em sexo. Quer flores no enterro, mas não as espera em vida. Alimenta sapos na barriga. Transforma culpa em juízo, não quer amor mas quer abrigo. Sente-se melhor com espelhos novos, pois lhe mostram feia os antigos.


Conto 3:

Todas as noites ele sonha. É criança, tem medo, está quase sempre pelado e a voz ecoa. Ao despertar não os lembra e logo trata de recompor o corpo. Aquela linha entre ele e o outro lado é transformada em face e ele gosta disto. Entoa para não lembrar o menino do sonho que não oferece sentido e nem sorriso - pois lá só há abismo. Mas ele sai a ler as respostas e recados de computador em sua pagina oficial. Sente-se atraente por vez e alimenta o sorriso de seu ópio matinal.

Aquele menino andava nu no sonho
mas este está sempre vestido

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