18 de jan. de 2010

De que vale a vida se não para devorar uns aos outros?

Eu ando receoso em escutar estórias de encontros. Como doses anestésicas são usados os colos estranhos. A cena é sempre a mesma no cinema pornô, refletida nas telas do laptop do menino de 6 anos. A cena é sempre a mesma no vazio do sexo pobre, refletida na infância interrompida da menina de mesma idade. Violência e submissão poderia ser o título de qualquer encontro parvo.

E a noite se transformou no grande palco de atuação dos jogadores do esprém. À noite é que os leões saem para caçar, mas ao contrário dos zumbis de balada, eles devoram suas presas. Estes mutantes escuros não entendem de nada a selvageria do leão. São lixo de constructo, tão enlamaçados pela vergonha de norma civil que, ao encontro selvagem dos fluidos e odores dos corpos, supõem animalismo ao ato.

Como se o sexo refletisse a parte ainda selvagem em nós e o selvagem refletisse a violência. Mas o selvagem reflete a natureza e esta natureza está no campo limítrofe de todos os mundos. Tapas e submissão é apenas o escapamento de sua bitolada rotina. Este sexo sem criatividade grita por socorro e também subverte em morte o coito.

E ficam lá, no meio da pista de dança balançando o corpo pelo plano do radar (Shiva sabe que a dança descontrói o mundo em cada passo). As mulheres são oprimidas no cerco vil dos corações estragados e os inseguros reparam a torre da ilusão a cada captura. Outras são obrigadas a incorporar o áspero em si para afastar o homem vão que pensa que sorrir é conceder prisão ao seu desejo imútavel.

Mas os amantes, são eternos como é a natureza, nascem e morrem a cada instante. São uma força mútavel e sensível, assim como é o sexo. Repara na pele vaginal e no pênis despido de seu capuz, é o mais próximo que se pode chegar de um corte em aberto. Esta pele viva é como se fosse a última camada de elo entre o corpo e a alma. É a própria junção de teu espectro.

Toma-te cuidado com teu sexo, pois ele te exige mais! Tuas mil possibilidades de existir não serão alcançadas no obedecer de toda tua vida e ainda, perderá cada pedaço de tua morte-em-vida pelo delírio de ideal; teu sexo reflete o cenário de fantoches da tua sobrevida. Só pelo absoluto de possibilidades que o sexo será realmente selvagem.

Cantam os poetas em uníssono:

- Quem consegue escutar as cores da borboleta pode apalpar o infinito.

Um comentário:

  1. Muito bom.
    Vem de encontro ao que penso.
    Sobre zumbis.
    Baladas.
    E almas perdidas.

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